O menino e suas bolinhas
(Rafael Ascenção - Ago.09)
Quem lê o título deste texto acredita que agora falarei como pastor, padre ou figura religiosa... Não que seja errado falar como eles. Suas razões, suas lutas quando embarcadas em ares nada radicais são de extrema importância para a construção de uma sociedade mais justa.
Muita gente nasceu sem saber o que é amar o mundo, pelo menos quando falo do peso de cada atitude que tomamos, a cada segundo quando acordados ou dormindo...
Menos pessoas ainda entendem o conceito escondido por trás da palavra mundo. E quando estamos bem próximos dessa descoberta de ignorância natural e vingativa é que começamos a repensar tudo o que fazemos, tudo aquilo que assistimos de errado sem propor uma nova lógica e é claro tudo o que deixamos de fazer ao longo do tempo para tornar os dias e noites do mundo melhores.
Olhar o mundo com preocupação é se perguntar sempre: Não há um lugar nas escolas para aquele pequeno que agora lança bolinhas na faixa de pedestres? E uma escola de circo comprometida com o caráter artístico perdido nos olhos vazios do menino descalço e suas bolinhas?
Deveria haver mais ‘Cirques du Soleils’ no mundo, com o perdão do uso indevido e políticos mais compromissados com a criança também.
É que a cena do menino sem futuro me agride. E me agride ainda mais profundamente a de quem acha graça ou se diverte. Se reconhecêssemos nessas crianças os futuros médicos, assistentes sociais, matemáticos, artistas, ginastas que eles poderiam ser, não venderíamos seu futuro por um punhado de moedas.
É confusa essa dinâmica de ação equivocada da esmola e abstração da tortura humana causadas pela não revolta. A dor da criança que antes durava para mim apenas um minuto de sinal vermelho agora multiplica-se as eternas trocas de cores de uma tarde sem escola, sem saúde, sem família...
Voltando ao ponto de que somos capazes transformar o mundo quando propomos uma nova lógica que pode ser seguida de outra, e de outra e de uma ainda melhor, o que proponho é que sejamos capazes de enxergar que nesse lugar carente de amor há um outro mundo de coisas que precisamos descobrir, numa imensidão de caminhos que podemos trilhar para frente ou para trás.
Proponha você também uma nova forma de ver, movimentar com revolta e solucionar sempre o que agride o nosso mundo.
Acho que talvez esta seja a proposta inicial. Qual seu próximo passo?